DOMINGO, 28 DE ABRIL DE 2024
Publicada dia: 03/03/2023

03 de Março - Dia do Seringueiro

Fonte: portoweb

Segundo o Locutor Antonio Cezar (maior colecionador [RankBrasil] em Datas Comemorativas e seus porquês):
Essa data comemorativa do Estado do Acre tem por fim, marcar a data da fundação daquele que é tido como o 1º seringal organizado e estável da então desconhecida região acreana, que foi criado em 3 de março de 1878, graças ao empreendedorismo do nordestino da localidade brasileira de Uruburetama-CE, João Gabriel de Carvalho e Melo, depois de uma viagem com seus homens no vapor Anajás, que então fora especialmente fretado junto à "Companhia de Navegação do Amazonas", para transportar os passageiros e a carga necessária para essa expedição,e que havia partido em 6 de fevereiro desse mesmo ano, da atual cidade brasileira de Belém do Pará-PA com destino à região Acreana.

Para conhecimento, João Gabriel de Carvalho e Melo havia saído da então Província do Ceará, indo estabelecer-se em Belém do Pará, então capital da Província do Grão-Pará, em 1847. Em Belém, João Gabriel adquirira conhecimento sobre a floresta amazônica, principalmente, o extrativismo do látex. Não tardou muito subiu os rios da bacia amazônica e encontrou a partir de 1852 os opulentos seringais que margeavam o Purus. Desiludido com a vida depois que o tio da mulher se negara a lhe vender uma novilha a prestação, saiu de casa em busca do eldorado. À procura da riqueza, descobriu a solidão. Aferrado à ideia do regresso, embrenhou-se cada vez mais na floresta para tornar-se o 1º desbravador das terras acreanas.

No ano de 1857, João Gabriel, recém-chegado ao Purus, selecionara uma área vizinha a alguns lagos, em cujas margens viviam os "Jamamadís", que batizaram o local com o nome de "Tauariá" (409 milhas, rio acima, da foz do Purus). Durante anos a fio João Gabriel explorara os seringais nativos de Tauariá e prosperou muito, principalmente devido ao fato de lá permanecer ininterruptamente, sem "baixar" a Belém no "inverno". Nesse meio tempo teve como vizinhos o célebre prático brasileiro de embarcações [residente na Província do Amazonas], Manoel Urbano da Encarnação, que participara ativamente de incursões de reconhecimento dos Altos Rios, destacadamente o Rio Purus, e que antes de 1865 já havia subido por 4 vezes o Purus, em viagens de exploração, e o não menos famoso desbravador do Maranhão, Antonio Rodrigues Pereira Labre, o 1º a atravessar os "Campos Gerais do Puciarí", entre o Madeira e o Purus, para depois se fixar no trecho vizinho à boca do Ituxí, onde hoje se situa a cidade brasileira de Lábrea-AM (786 milhas da foz do Purus).

Assim, percebendo a fertilidade das terras a montante de "Tauariá", João Gabriel decidira mudar de pouso e, para tanto, já avisara à firma aviadora do Visconde de Santo Elias, para alterar o destino das suas mercadorias, antes despachadas para "Tauariá", agora para a nova exploração do Aquiri. Com a determinação para alterar o destino das suas cargas, João Gabriel de Carvalho e Melo foi o responsável, involuntário, pelo "batismo" das novas terras, situadas a sudoeste do estado do Amazonas, com o nome de "Acre". Os portugueses da firma aviadora, devido ao sotaque peculiar dos lusitanos, transformaram, por síncope, Aquiri em Acre.

Antes disso, João Gabriel voltara para Belém e depois ao Ceará, onde organizara com parentes, amigos, vizinhos, a viagem para a Amazônia e, acompanhado de vários familiares, recentemente recrutados pelo parente próspero, e muitos trabalhadores, também cearenses, contratados pelo mesmo João Gabriel, para a extração do látex das seringueiras existentes na nova "colocação", cuidadosamente selecionada desde 1874, por este cearense que pioneiramente se estabelecera no importante afluente do Purus. Depois de passar pela foz do Acre, subindo um pouco mais o rio, João Gabriel, aportou em terra firme, na Boca do Acre, estabelecendo ali o 1º seringal de que se tem notícia na história do Acre, com o nome de Anajás, pois nessa ocasião histórica, João Gabriel Carvalho e Mello, à frente de seus homens, ergueu barracas, conhecidas como Tapiri, simples choupanas feitas com produtos da floresta, como paxiúba, palmeira característica e abundante na região, para o assoalho e paredes, e palha para a cobertura, tendo por fim sinalizar aquele que é considerado o 1º seringal organizado e estável da região acreana.

"[...] Gabriel já conhecia bem o local, os índios, a floresta de ótimas seringueiras. Punha no empreendimento, além da fé e da energia, seu "saber de experiências feito. E assim se consagrou o 1º colonizador do Acre, para edificar um reino de borracha.[...]" Esse ato de coragem, de arrojo de João Gabriel, valeu ao Brasil levar suas fronteiras muito além, aos verdes horizontes de ninguém, que afinal se juntaram ao País, através da posse produtiva: ou do "uti possidetis". João Gabriel e seus homens foram os primeiros “brabos” (aqueles que não conhecem a floresta amazônica, seus perigos, seus mistérios e sua dinâmica) do Acre, mas foram em frente, enquanto destemidos desbravadores. Depois do bravo pioneirismo, muitos seguiram o mesmo caminho, ou o mesmo rio, a ponto que, perto de 20 anos mais tarde, no final do século XIX, já havia uma média de 400 seringais no Vale do Juruá e 100 no Vale do Acre. A partir do feito heroico de João de Carvalho, outros empreendedores passaram a se estabelecer às margens dos rios Purus, Juruá, Acre, Tarauacá e Iaco, que então eram considerados "rios bons de leite". Os rios foram tão importantes para produção e transporte da borracha, que o escritor, jornalista e historiador brasileiro, Leandro Tocantins, cita diversas vezes em suas obras, que na Amazônia, "o rio comanda a vida". É o rio comandando o modo de produção dos seringais; os negócios no barracão, a lida dos seringueiros na produção gumífera.

Assim, 24 anos decorridos, no fim do primeiro semestre de 1902, chegou aos seringais do Acre a notícia de que a Bolívia arrendara para uma empresa estrangeira, companhia de carta do tipo usado para a "colonização da África", aqui denominada "Bolivian Syndicate", todas as terras que figuravam nos seus mapas antigos como terras não descobertas ou "tierras non descubiertas". No seringal do senhor brasileiro da borracha, João Galdino de Assis Marinho, o fato novo chegou aos ouvidos do político, militar e idealista brasileiro, José Plácido de Castro, que então vinha demarcando as posses no lugar, e que registrou no seu diário o seguinte comentário: "[...] Veio-me à mente a idéia de que a pátria brasileira se ia desmembrar, pois a meu ver, aquilo não era mais do que um caminho que os Estados Unidos abriam para futuros planos, forçando desde então a lhes franquear a navegação dos nossos rios, inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o emprego da força e a nossa desgraça em breve estaria consumada. Guardei apressadamente a bússola de Casella, de que me estava servindo, abandonei as balisas e demais utensílios e saí no mesmo dia (23 de junho de 1902) para as margens do Acre. [...]"

Imediatamente, dirigiram-se José Galdino de Assis Marinho e Plácido de Castro para "Bom Destino", seringal situado a 94 milhas a montante da Boca do Acre, já nos limites do atual estado do Acre, que então era explorado pelo seringalista brasileiro, Joaquim Vitor da Silva. Joaquim Vitor, personagem esquecido pela História, foi, nada mais nada menos, que o líder civil de um movimento, já em curso, que contestava a soberania boliviana sobre as terras ocupadas pelos brasileiros, na sua maioria cearenses retirantes da grande seca de 1877-1879. Aquele momento histórico, a chegada de Plácido de Castro a "Bom Destino", marcou o encontro do chefe civil com o futuro chefe militar da bem sucedida pseudo "Revolução Acreana!", que teve como resultado final, uma expansão territorial do Brasil.